domingo, 29 de junho de 2008

Em algum lugar onde nunca estive - e.e.Cummings

Eu vivo tendo umas experiências interessantes com poesia. Hoje depois de receber um telefonema de alguém muito especial, a primeira frase de um poema do Cummings ficou se repetindo na minha cabeça como um toque de piano. Ai eu fui lembrando da poesia inteira e entendi o que me "faz compreender a voz dos olhos". Taí a poesia! Belissíma!


"nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera
abre (tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente,
de repente,assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fechae abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas"

(tradução: Augusto de Campos)

Um comentário:

Luiza Camilo disse...

ai.. que dor de paixão, de amor, de solidão, de saudade, de certeza, de eternidade.. é!, de amor.

saudades