quinta-feira, 19 de junho de 2008

Eu, Eliot, o tempo e o limite.

(...) "No imóvel ponto do mundo que gira. Nem só carne nem sem carne.
Nem de nem para; no imóvel ponto onde se move a dança.
Mas nem pausa nem movimento. E não se chame a isto fixidez,
pois que passado e futuro aí se enlaçam. Nem ida nem vinda,
Nem ascensão nem queda. Exceto por esse ponto, o imóvel ponto,
não haveria dança e tudo é apenas dança.
Só posso dizer que estivemos alí, mas não sei onde,
Nem quanto perdurou este momento, pois seria situá-lo no tempo.
A liberdade interior do desejo prático,
A fuga da ação e do sofrimento, a fuga da compulsão
Interior e exterior, ainda que cingidas
Pela graça dos sentidos, uma luz branca imóvel e movediça,
Erhebung estática, concentração
Sem exclusão, ao memso tempo um novo mundo
E outro antigo agora decifrado, compreendido
Na íntegra de seu êxtase parcial,
Na resolução do seu parcial horror.
Contudo o encadeamento de passado e futuro
Entretecidos na fragilidade do corpo mutável
Preserva o homem do céu e da condenação
A que nenhuma carne poderia suportar.
O tempo passado e o tempo futuro
Não admitem senão uma escassa consciência.
Ser consciente é estar fora do tempo
Mas somente no tempo é que o momento no roseiral,
O momento sob o caramanchão batido pela chuva,
O momento na igreja cruzada pelos ventos ao cair da bruma,
Podem ser lembrados, envoltos em passado e futuro.
Somente através do tempo é o tempo conquistado.
Trecho de Burnt Norton II parte in "Os quatro quartetos" - T.S. Eliot

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