domingo, 21 de setembro de 2008

Ana Akhmátova - Meu mais novo achado em poesia

Como Pedra Branca

Ana Akhmátova

Como pedra branca no fundo do poço

dentro de mim está uma memória.

Nem quero afastá-la, nem posso:

é sofrimento e é prazer e glória.



Julgo que quem olhar-me bem de perto

dentro em meus olhos logo pode vê-la.

E ficará mais triste e pensativo

que alguém que escute uma anedota obscena.



Eu sei que os deuses metamorfoseavam

os homens em coisas sem tirar-lhes alma.

Para que o espante da tristeza dure sempre,

em coisa da memória te mudei.



(Tradução de Jorge de Sena)



TREZE VERSOS


E finalmente pronunciaste a palavra

não como quem se ajoelha,

mas como quem escapa da prisão

e vê o sagrado dossel das bétulas

através do arco-íris do pranto involuntário.

E à tua volta cantou o silêncio

e um sol muito puro clareou a escuridão

e o mundo por um instante transformou-se

e estranhamente mudou o sabor do vinho.

E até eu, que fora destinada

da palavra divina a ser a assassina,

calei-me, quase com devoção,

para poder prolongar esse instante abençoado.

Um comentário:

Unknown disse...

Wow...
Sorry dear, but only now read your news texts...

Adorei os 2 textos de Ana Akhmátova, foi um grande achado!!!
Esse "Como pedra branca" então.. nem se fala!!

Memórias... sofrimento, prazer e glória... isso me lembra alguém...

Dear, é bom tê-la por aki novamente!! Parabéns pelos textos e continue postando...
Bjuss