domingo, 21 de setembro de 2008

A Incrível poesia de Ana Akhmátova

Dedicatória
Ana Akhmátova

Tradução de Aurora F. Bernardini e Hadasa Cytrynowicz

Diante dessa dor curvam-se os montes,
O Grande rio já não corre,
Mas são fortes as trancas das prisões,
E atrás delas os "covis de forçados"
E uma angústia mortal.
Para quem sopra a brisa leve,
A quem enternece o pôr-do-sol —
Não sabemos, por toda parte iguais,
Ouvimos só o hediondo estridor das chaves
E os passos pesados dos soldados.
Levantávamos como para a missa da manhã,
Íamos pela cidade embrutecida,
Nos víamos lá, mais exânimes que os mortos,
O sol mais baixo e mais nublado o Nieva,
Mas a esperança ainda cantando ao longe.
A sentença... E as lágrimas irrompem,
De todos já afastada,
A vida arrancada do coração aos gritos.
Derrubada de costas, brutalmente,
Mas ela anda... Cambaleia... Só...
Onde estão as amigas prisioneiras
Dos meus dois anos de inferno?
O que elas vêem na tormenta siberiana,
O que tremeluz no halo da lua?
A elas, meu adeus de despedida.

(Março 1940.)


Réquiem, Art Editora, 1991 - S.Paulo, Brasil


Um comentário:

Karlus disse...

Ot druguikh mnié khvalá - tchto zolá, Ot tiebiá i khulá - pokhvalá.